Circulando por Casablanca
Casablanca é uma grande cidade,
muitos carros, outdoors. Sentimos aquela sensação de anos 90, com certeza a
modernidade esta vindo de bonde... Mas a grande diferença esta no povo. O homem
marroquino não anda de camiseta e tênis (salvo alguns jovens), as roupas são do
estilo... “Achei no Brechó, viu o defunto não era menor” e as mulheres... Nossa
elas flutuam com as burkas (apenas a face exposta, outras nem isso), elas andam
em bando, sempre com muitas crianças faladeiras ao redor, são super-reservadas,
e olham pra nós com aquela curiosidade de... “Será que morde?”.
A verdade é que o período em que
estive no Marrocos, senti que estava em um universo paralelo. Hoje compreendo
certas coisas que não consegui entender enquanto estive lá.
Acho que maior lição que aprendi
foi que a cultura é variável, temos que aceitar as diferenças e tolerar as
manias do anfitrião. Então amigos, descobri que cai de paraquedas em terras
Marroquinas no período do Ramadã. E isso me causou alguns transtornos no
decorrer desta viagem.
Ramadã,
também grafado Ramadan (em árabe رَمَضَان)
é o nono mês do calendário islâmico. É o mês durante o qual os muçulmanos
praticam o seu jejum ritual
(suam, صَوْم), o quarto dos cinco pilares do
Islão (arkan al-Islam);
A palavra Ramadão
encontra-se relacionada com a palavra árabe ramida, “ser ardente”,
possivelmente pelo fato do Islão ter celebrado este jejum pela primeira vez no
período mais quente do ano.
Neste período, é
um tempo de renovação da fé, da prática mais intensa da caridade, e
vivência profunda da fraternidade e dos valores da vida familiar.
Neste período pede-se ao crente maior proximidade dos valores sagrados, leitura
mais assídua do Alcorão, frequência à mesquita,
correção pessoal e autodomínio.
É o único mês
mencionado pelo nome, por Deus, no Alcorão.
Com isso, os marroquinos ficam todo o dia em jejum, não trabalham,
não bebem água, até o sol se pôr. Detalhe: O Sol se põe às oito horas da noite.
Na minha ignorância ansiosa pelas medinas, souks e mercados, fiquei indignada com tal
prática. Hoje vejo a experiência impar que vivi, de estar em um período
sagrado, de peregrinações e de grandes encontros com Alah (Deus).
De Casablanca a Fes fui descobrindo as cores do Marrocos, os
cheios e a vibração. Rodar o mundo é encontrar Deus. Acho que em cada viagem,
tenho uma renovação deste encontro... A Pluralidade Cultural do Ser Humano é
seu maior tesouro.
Voltando a Casablanca, o primeiro lugar que fomos... O Hotel
Clássico, emblemático de Casablanca. Onde os atores ficaram hospedados durante
o processo de pesquisa do filme.
Detalhe: Casablanca foi todo filmado em Hollywood. Todos os
cenários eram réplicas.
Antes que vocês me perguntem, não foi bomba! Foi o tempo... Falta
de manutenção. O prédio é importante pra nós ocidentais, não pra eles
marroquinos. Foi impactante perceber isso!
Em frente às ruínas do hotel, tem a replica do Rick Café. Um
charme!
Entramos no mercado... O cheiro, as cores, o falatório, o
pescado... Simplesmente perfeito!
Quer conhecer o povo de verdade, veja como ele come e foi isso que
fizemos em Casablanca. Nunca vi tanta variedade de frutas e verduras, todas
lindas cheirosas. Outro lugar que amei foi a Medina, organizada, bonita,
arquitetada perto do centro administrativo. As telas expostas, os tecidos, os
tapetes... Veio na mente Sherazade e Suas Histórias das Mil e Uma Noites -
minha princesa predileta.
Sobre
Sherazade:
Schahriar, rei da Pérsia, vitimado pela infidelidade de
sua mulher, mandou matá-la e resolveu passar cada noite com uma mulher
diferente, que mandava degolar na manhã seguinte. Recebendo como mulher a Sherazade,
esta iniciou um conto que despertou o interesse do rei em ouvir-lhe a
continuação na noite seguinte. Sherazade, por artificiosa ligação dos seus
contos, conseguiu encantar o monarca por mil e uma noites e foi poupada da
morte.
Fica então a
metáfora traduzida por Sherazade: A liberdade se conquista com o exercício da
criatividade.
A praia – Muito diferente da nossa, cheia de pedras, o mar é escuro,
violento, forte e selvagem. Vi algumas mulheres de burka caminhando pela areia,
a cena é linda e surreal.
Quando penso em Casablanca, penso na Mesquita Hassan II...
Enorme,
desafiando o mar, seus mosaicos, seus portais, sua torre. É indescritível a
visão, não nos cansamos de admirar e de caminhar por seus arcos, de agradecer a
Deus por aquele momento.
Volto a repetir Deus esta vivo na CULTURA!
Nas mãos que constroem
os templos, nos arquitetos, nos pintores, nos músicos, nos bailarinos, nos
artistas. Penso nas grandes obras dos homens como a Sagrada Família de Gaudí ou
nos Azulejos da Pampulha feitos por Portinari. Deus esta sempre no coração de
quem se entrega com paixão... E quer entrega maior do que esta?
Mas Deus também esta nas mãos de quem cozinha... Não tem como
falar do Marrocos e deixar de lado a gastronomia marroquina... Divina!
Mas deixo isso para uma próxima postagem...
Hasta!