sábado, 2 de junho de 2012

Meknès


A cada dia o calor parecia aumentar no Marrocos, o vapor era tanto que quando tirava os óculos escuros, não conseguia manter os olhos abertos. Estávamos a caminho de Meknès, a cidade cercada por uma grande muralha e com o maior portal da África do Norte.

Posso dizer que em Meknès vivemos os legítimos costumes marroquinos, entramos nos souks, passeamos pelo mercado, nos purificamos na mesquita e admiramos o vai e vem das pessoas por detrás das muralhas. Vimos crianças soltando pipas, belas mulheres fazendo compras pela medina e os turistas tentando barganhar com os vendedores as especiarias marroquinas.


Logo na chegada da cidade, vislumbramos o Lago Agdal — Reservatório de água construído por Moulay Ismail para irrigar os jardins e hortas de Meknès e depósito de água da Almedina. Tem 319 por 149 metros e mais de dois metros de profundidade.

Por falar de água... Nunca, jamais tome água sem ser mineral, tem que ser de garrafinha mesmo! Verifique se a garrafa esta lacrada. Nós tomamos muito cuidado com isso, pois todas as resenhas sobre os países africanos aconselham sempre lavar muito as frutas antes de consumi-las e ter muita cautela com a água. Entretanto esquecemos um detalhe básico: O GELO! Eu e Renato somos dois cervejeiros de plantão, mas cerveja tem que ser gelada, russinha de preferência! Mas no Marrocos eles têm como costume servir a cerveja quente. Imaginem... Calor e cerveja quente definitivamente não combinam. Então muito gelo na Casablanca (cerveja local) – Resultado... Deixo para a próxima postagem! 


Em Meknès nos deparamos com o grande portal, Bab Mansour el Aleuj — porta monumental da cidade imperial, construída em 1732. É uma das mais belas obras de Moulay Ismail, e uma a porta mais imponente de Marrocos, senão mesmo da África do Norte. Sentimos a energia que vem da cidade, diferente das outras que passamos. Meknès é poderosa, densa e sentimos a presença do Espírito Tuareg. 

Os tuaregues são um grupo étnico da região do Saara que falam uma língua berber. Eles chamam-se a si próprios Kel Tamasheq ou Kel Tamajaq "falantes de Tamasheq", e também Imouhar, Imuhagh, ou Imashaghen "os livres". A palavra árabe "Tuareg" significa "abandonados pelos deuses".

Um pouco da história de Meknès para entender a energia que emana da cidade:

Moulay Ismail é a alma da cidade, o sultão conhecido pelas barbáries. Entretanto, a origem de Meknès é mais antiga, por volta do século X. Neste período, a tribo Meknassa atraída pelo solo fértil e a água abundante. Eles se estabeleceram nas margens do rio Qued e fundaram Meknassa Zeitouna e Meknassa Taza. No século XI foi conquistada pelos Almorávidas e se transformou em um posto militar, antes da expansão da dinastia Almóada, no século XII, mas tarde sob o reinado dos Merenidas.No final do século XVII, Meknès foi conquistada pelo sultão alaouita Moulay Ismail, e se tornou uma das maiores cidades imperiais do Marrocos. Em 1672 o tirano fez de Meknès a capital do Marrocos, e iniciou uma grande empreitada para dotar a capital de monumentos dignos de uma grande cidade. Seu objetivo era transformar Meknès na Versailles Marroquina.Para garantir que seus planos seriam bem sucedidos, o sultão recrutou um exército de operários, escravos, artesãos, prisioneiros e moradores das vilas próximas para a construção de quilômetros de muralhas e paredes, portões majestosos, arque dutos, mesquitas, palácios e jardins e kasbahs (fortaleza). Indo alem dos limites da razão, Moulay Ismail ordenou a destruição dos monumentos e palácios de Fès e Marrakesh, para que nenhuma cidade o Marrocos fosse mais bela que Meknès.




Entenderam agora a vibração? Tenho certa superstição com relação a vibrações, exemplo é o Solar dos Airises em Campos dos Goytacazes (solar onde o senhor era extremamente cruel com seus escravos), toda vez que passo por ali sinto um arrepio no corpo. A história de um povo fica retida pelas paredes, o bem e o mal conflitam nas muralhas de Meknès...

DENSO e TENSO!
Mas amei circular por Meknès, é uma cidade que vale muito conhecer! Sentimos o Saara bem próximo, o vento quente tem areia... Percebemos que estávamos às portas do maior deserto do mundo.

Por falar em portas... Como é entrar na maior Medina do mundo?
Na próxima postagem te respondo isso...
Até Fès!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ruínas Romanas de Volubilis


 
Em toda minha vida nunca senti tamanho calor. A sensação é de falta de ar, nossos movimentos ficam lentos, posso dizer que até nosso raciocínio entra em processo “slow motion”. Partimos para Volubilis, o caminho é de terra e seco... 

Mas o visual é surreal, quando nos deparamos com os arcos romanos no alto da colina, sentimos o impacto do tempo e suas civilizações. E é arrebatador!

Dicas preciosas para quem vai visitar Volubilis:
Nunca vá ao sitio arqueológico entre 11hs e 15hs o calor é insuportável. Não existe sombra mesmo! São 20 minutos de caminhada, leve uma garrafinha de água, e vá ao banheiro antes de fazer o passeio. O banheiro que existe custa ¢2 (dois euros), e é imundo! Não existe nada em um raio de meia hora para comprar. Roupa confortável, tênis, muito protetor solar e boné ou chapéu.

Uma pequena referência sobre a história das Ruínas Romanas de Volubilis:
A antiga cidade de Volubilis fica de costas para um pico triangular que se salienta de Maciço Zerhoun. O local foi povoado e começou a prosperar com os reis mauritanos, do século III A.C. ao ano 40 D.C. Os templos deste período, bem como um estranho túmulo, foram desenterrados e saqueados.
Quando a Mauritânia foi anexada pelo imperador romano Cláudio em 45 D.C., Volubilis ascendeu ao estatuto de cidade livre, tornando-se uma das cidades mais importantes de Tingitana. Os edifícios públicos no bairro nordeste datam do século I e os que rodeiam o fórum datam do século II.
Depois de Roma se ter retirado da Mauritânia, no século III, a cidade regrediu. Era habitada por cristãos, mas foi islamizada quando Idrici I chegou em 788.
Curiosidade sobre Volubilis:
Devido sua proximidade com a Cordilheira Atlas, a cidade realizava um próspero comercio de animais selvagens (ursos e leões), estes animais eram destinados às arenas de gladiadores. Infelizmente esta prática levou a extinção destes animais no norte da África.
Não comentei ainda, mas a cada viagem sempre fazemos novas amizades. E no Marrocos não foi diferente... Conhecemos Dora e Zé Roberto, casal de cariocas que adotamos literalmente, ou eles nos adotaram?
A Dorinha nos acompanhou na subida para Volubilis, infelizmente subimos em um horário super impróprio, e o sol do verão marroquino nos castigou! 55° Graus sem sombra, sentíamos nosso suor evaporar. Felizmente o visual e a história de Volubilis valeram a pena.
Um conselho básico: Pague um guia para fazer o caminho com você! O Sitio é deserto e o Marrocos realmente tem um índice grande de violência ao turista. Subir acompanhado realmente é mais seguro, e facilita na identificação das ruínas dos prédios romanos.
A antiga cidade romana esta a cerca de 30 km de Meknés e a apenas 4 km de Moulay Idris (a cidade santa de Marrocos).  Do alto da colina de Volubilis, visualizamos a cidade de Moulay Idris, toda branca e em formato de um camelo. É uma linda imagem! 
O interessante deste lugar é a ótima conservação do sítio arqueológico, que apesar das ações do homem e da natureza como: Saques (todo mármore foi retirado das ruínas), o impacto do terremoto que destruiu Lisboa em 1755 e que refletiu no norte da África, a estrutura da cidade romana se mantem viva. É possível ver onde se situavam os fornos, lojas, banhos, casas pobres, casas mais ricas, como também muitas fontes e mosaicos.
Até mesmo um pênis esculpido em uma pedra, selando a entrada em uma casa.
Sugestivos estes romanos, não? Imagina-se que isso significava devoção a Priapo, deus da fertilidade, filho de Dionísio e Afrodite.
“Todos os caminhos levam a Roma” – A frase romana simboliza que o portal de saída de uma cidade romana direciona o caminho para o próximo domínio romano. 

Visitar Volubilis foi constatar a grandiosidade deste Império. Pensamos no homem, na sua capacidade de criar e dominar, a relação de poder e de perder. 

Ao redor de Volubilis a cordilheira Atlas assistiu as histórias dos homens que viveram ali nos diferentes séculos, tudo mutável, tudo terno... Eterno mesmo é a cadeia de montanhas e o deserto que cobre aquele solo... Nós homens? Nós estamos só de passagem...
Por onde passamos depois? Meknés!